O Canto Nono propõe este concerto com base em toda a vivência musical e pessoal que tiveram com José Mário Branco, de 2000 a 2019, enquanto foi diretor artístico do grupo. Em tom desafiador, o Canto Nono trabalhou na recriação de 17 de suas obras. Os arranjos musicais colocam a harmonização das vozes no centro, expondo as suas potencialidades na recriação de melodias que nos tocam os sentidos. Não é uma mera reposição de repertório, agora com novas abordagens, estéticas e formas de expressão. Este seria, com certeza, um tributo que José Mário Branco resignadamente agradeceria (tão avesso que era a todas as formas laudatórias) e no qual o Canto Nono se empenha, orgulha-se e agradece por ter tido o privilégio de cruzar as suas vidas com a dele.
A palavra era uma constante em toda a sua obra, a sua força e o seu poder sobressaem porque, para além de uma simples unidade linguística, é dotada de um profundo sentido. Foi este um dos faróis na sua vida, a verdade, que estava continuamente presente em tudo o que fazia, tanto como profissional como na intervenção cívica. José Mário Branco lutou pela verdade toda a sua vida, conquistando inimigos em nome da verticalidade, mantendo amigos a troco de amizade. Esta plasticidade palavra/verdade foi o húmus da sua autenticidade e com ela conviveu uma vida inteira. Palavra cantada são o santo e a senha do Canto Nono e é também com verdade que tentam transmiti-las, não só por respeito ao cantor como a si próprios, tentando materializar uma assumida comunhão de pensamento em formas criativas de expressão, utilizando unicamente a voz como instrumento. Na atuação do grupo, a palavra é transposta para o primeiro plano, enxuta, imune a sons parasitas que lhe ofusquem o protagonismo. A expressão “à capela” está relacionada com a técnica musical desenvolvida pelos monges e membros do clérigo católico (embora também existam as vertentes bizantina, muçulmana e judaica) que frequentavam capelas onde não existia o imponente órgão das catedrais, dando origem à tradição do canto baseado somente na voz humana. É esta a técnica que o Canto Nono utiliza para interpretar as suas obras.
Projeto apoiado pelo Programa «Arte pela Democracia», uma iniciativa da Comissão Comemorativa 50 anos 25 de Abril em parceria com a Direção-Geral das Artes.
Ficha artística
Vozes - Dalila Teixeira, Joana Castro, Diana Gonçalves, Daniela Leite Castro, Lucas Lopes, Jorge Barata, Rui Rodrigues e Fernando Pinheiro
Entrada livre, sujeita à lotação do espaço.
Localização:
Centro Cultural Paredes de Coura